terça-feira, 18 de maio de 2010

"A Verónica é uma rapariga de taras!"


Houve quem dissesse:


"A Verónica é uma rapariaga de taras!"


Concordo, concordo plenamente...


Hoje o mar dá-me calafrios e respingo quando o não posso visionar, mas amanhã já não será o mar, serão os rochedos erectos e firmes, sem vida ou movimento, que me apaixonarão. Hoje choro quando o luar não me visita, amanhã chorarei pela falta da lua nova.


"A Verónica é uma rapariga de taras!"


Neste instante quero retroceder no tempo, bem na altura dos samurais intrépidos de kimonos negros e cinturões alvos, quero assistir à tenacidade imbuída nas suas katanas e sustentá-las bem firmes entre os dedos calejados pelo furor das batalhas artísticas, levadas a cabo no cerne da harmonia das artes marciais. Quero admirar o espírito rígido, os costumes incomensuráveis, entender o harakiri, desvendar o porquê do sangue que escorre nas vestes ser visto como purificação aquando do suicídio... Quero mergulhar nos olhos rasgados em forma de ave de rapina, nadar na escuridão da sua alma... Hoje, é isto que quero, amanhã, não sei...


Mas todos os meus desejos foram contemplados com um mesquinho sortilégio que me impede de os concretizar. É frustrante tal situação, pelo que...


Retornei à Verónica solitária e meditativa, retornei à Verónica espiritual, retornei aos escassos sorrisos e à parca alegria que me caracteriza. Sei que me conhecem como a miúda alegre e sorridente, mas a minha alma é negra como os olhos dos japoneses do outro lado do mundo, sempre foi, sempre será, e somente quando deixo que o negrume se inflame, me sinto eu e consigo (peculiarmente) achar a felicidade suprema, o meu Nirvana...


Fecho os olhos, achei outro ser humano para admirar (no meio de tanto excremento há sempre alguém que sobressai). Lembram-se do Billy Idol? Pois há já mais de dois meses que o não escuto, a obsessão durou duas semanas e cessou, procuro agora outros portos, achei-os:


China, Taiwan, Japão, Mongólia, Tailândia,... Descobri agora uma súbita paixão pela cultura dos países orientais, pela sagacidade, pela intelectualidade, pela espiritualidade destes povos. Quero pisá-los, não posso, a sociedade capitalista impede-me, limito-me então a escutar, a escutar, a escutar,...


Ryuichi Sakamoto